[PODCAST]

 

Na primeira temporada, estivemos à conversa com os arquitectos Carrilho da Graça, João Mendes Ribeiro, Inês Lobo, Carlos Castanheira, Tiago Mota Saraiva, Nuno Valentim, Nuno Brandão Costa, Cristina Veríssimo, Diogo Burnay, Ricardo Bak Gordon e Paula Santos.

1.ª Temporada

 

Episódio 01

 

"É interessante e realmente é o espírito que eu sempre tenho na arquitectura: tentar que as intervenções dos arquitectos contribuam para que a cidade seja melhor para toda a gente." [Carrilho da Graça]

 
  • Na conversa tivemos a oportunidade de conhecer um arquitecto com um enorme sentido de humor, que partilhou algumas das suas experiências com embarcações e a sua missão na arquitectura: "É interessante e realmente é o espírito que eu sempre tenho na arquitectura: tentar que as intervenções dos arquitectos contribuam para que a cidade seja melhor para toda a gente". No episódio ficamos a saber que o projecto do Terminal de Cruzeiros de Lisboa foi uma oportunidade para aproximar a cidade ao rio, e que a cobertura, de acesso livre, oferece uma vista panorâmica sobre o estuário do rio, conhecido como o Mar de Palha. Carrilho da Graça contou-nos algumas das histórias por detrás da construção e descobrimos, por exemplo, que utilizou o compósito de betão e cortiça, criando uma solução inovadora, que confere uma maior leveza estrutural ao edifício.

 
 

Terminal de Cruzeiros de Lisboa, Carrilho da Graça Arquitectos
© Foto Fernando Guerra | FG+SG

 

Episódio 02

 

"Aquilo que mais me agrada, eventualmente, neste trabalho é a de não haver uma marca do arquitecto de forma a que o edifício histórico seja o tema central do projecto." [João Mendes Ribeiro]

 
  • Neste diálogo podemos compreender como esta intervenção permitiu restaurar e recuperar estruturas existentes e introduzir sistemas adequados ao desenvolvimento das plantas e à acessibilidade e fruição do edifício. Temas como o património, a qualidade construtiva do edifício preexistente e o equilíbrio entre a modernidade e a tradição foram preponderantes durante o trabalho de investigação do arquitecto. Fascinado pelo mundo das plantas, João Mendes Ribeiro ainda estabeleceu comparações com outras estufas. Uma das medidas com maior impacto nesta sua intervenção foi a recuperação da relação entre o interior e o exterior da estrutura original e a reposição de vidros translúcidos, removendo o peso resultante da caiação. A colocação de novos vidros transparentes e de telas de sombreamento interiores traz uma nova leitura da estufa a partir de fora e preenche todos os requisitos necessários para a regulação térmica, a protecção solar e a segurança do espaço. Sabe-se que a intervenção no Jardim Botânico de Coimbra é um dos primeiros exemplares da arquitectura do ferro em Portugal e, além disso, existe também aqui um cruzamento com a arquitectura de estufas de outros países europeus. Referenciada nas estufas de Kew Gardens, em Inglaterra, a intervenção de João Mendes Ribeiro cria uma leitura contemporânea a partir do passado. É de destacar que no corpo central da estufa podemos apreciar a Victoria Régia, uma espécie de nenúfar gigante proveniente da Amazónia. Em determinado momento da conversa, João Mendes Ribeiro sublinha: "Aquilo que mais me agrada, eventualmente, neste trabalho é a de não haver uma marca do arquitecto de forma a que o edifício histórico seja o tema central do projecto”.

 
 

Recuperação da Estufa do Jardim Botânico, João Mendes Ribeiro
© Foto José Campos

 

Episódio 03

 

"Aquilo que mais me fascina no universo da Arquitectura é a obra pública e tem a ver com esta ideia de que, quando dizemos obra pública, estamos a construir para todos nós." [Inês Lobo]

 
  • Inserido no antigo tecido urbano da cidade, o novo edifício da Biblioteca pretendia responder a um conjunto de desafios. Um dos pontos de partida foi reconhecer o que a cidade tinha para dar. O programa era complexo e o terreno acidentado. Logo no início da nossa conversa, Inês Lobo realçou os espaços de uso colectivo: "Aquilo que mais me fascina no universo da Arquitectura é a obra pública e tem a ver com esta ideia de que, quando dizemos obra pública, estamos a construir para todos nós". O pai da arquitecta Inês Lobo trabalhou, durante muitos anos, nas bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian e, posteriormente, no Serviço de Bibliotecas da Gulbenkian, por isso a Leitura e o Livro acompanham a arquitecta desde a infância. Essa vontade de livre acesso ao conhecimento reflecte-se na própria forma como a biblioteca foi construída. Portanto neste lugar de partilha, mas também de silêncio e de refúgio, o leitor pode eleger o seu lugar de leitura, acabando por nunca estar desligado do colectivo. Durante a entrevista, a Inês Lobo enfatiza: “A nossa disciplina é uma disciplina transversal a todos nós, não pertence só aos arquitectos, pertence ao mundo, pertence a todas as pessoas que habitam o mundo”.

 
 

Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo, Inês Lobo
© Foto Leonardo Finotti

 

Episódio 04

 

“O arquitecto só mostra aquilo que ele quer e que ele gosta... Isto, claro, dando sempre a possibilidade de as pessoas introduzirem alguma da sua experiência e da sua vivência no próprio espaço.” [Carlos Castanheira]

 
  • Carlos Castanheira começa por partilhar connosco a forma como a arquitectura em madeira sempre o inspirou e, neste percurso que serpenteia um dos bosques do Parque de Serralves, essa influência permanece bem visível. Quando a Building Pictures propõe ao arquitecto que partilhe com os ouvintes os diferentes momentos do passadiço, o arquitecto revela que uma das preocupações era a possibilidade de criar percursos alternativos: “A arquitectura pode ser vista de uma forma em que as pessoas são parte activa porque percorrem essa mesma arquitectura, abandonando aquela ideia da arquitectura estática. Ou seja, é bom que algo aconteça. Como costumámos dizer: a arquitectura tem de cantar, tem de se mexer”. Por entre pinheiros, eucaliptos e cedros podem-se observar diferentes tonalidades de verde e a biodiversidade envolvente. A pensar nas sessões de serviço educativo, o trilho inclui também um miradouro sob o lago e um auditório. Para além disso, o percurso está adaptado para todo o tipo de públicos, nomeadamente pessoas com mobilidade condicionada. Com aproximadamente 250 metros de extensão e elevado a um máximo de 15 metros, o passadiço encontra-se implantado no Parque de Serralves, respeitando a orografia e a flora. O arquitecto garante que, durante a concepção da estrutura, nenhuma árvore foi removida e utilizaram-se materiais sustentáveis, fazendo o reaproveitamento de madeira reciclada de incêndios e obras.

 
 

Treetop Walk em Serralves, Carlos Castanheira
© Foto Fernando Guerra | FG+SG

 

Episódio 05

 

"Tudo isto fazia-nos sentir que a Arquitectura estava a fazer parte da sua própria recuperação. Ou seja, quando na verdade, no início, as pessoas sentiam que só olhavam para o passado recente e diziam: 'Eu não queria que isto tivesse acontecido!'. Com a Arquitectura as pessoas começaram a pensar: 'Bem... eu posso viver melhor'." [Tiago Mota Saraiva]

 
  • Tiago Mota Saraiva é um dos sócio-fundadores do ateliermob e da cooperativa ‘Trabalhar com os 99%’, contexto em que os projectos de arquitectura social assumem um lugar de destaque. O foco deste projecto, como nos revela o arquitecto logo no início da entrevista, era “criar condições para trabalhar para aqueles 99%, que não têm capacidade económica para pagar os serviços, mas que necessitam de arquitectura”. Mais do que servir o autor, a arquitectura quer servir as pessoas. Após a tragédia de Pedrógão, assistiu-se a uma grande onda de solidariedade, em Portugal, e a Fundação Calouste Gulbenkian contratou o ateliermob. A cooperativa instalou um gabinete em Figueiró dos Vinhos e providenciou assistência técnica no processo de reconstrução das sete casas para um melhor acompanhamento do projecto. Numa fase inicial, as pessoas retraíram-se e diziam querer uma habitação igual à anterior, mas depois dessa reacção começaram a dar sugestões para que a casa que estava a ser construída fosse de encontro às suas necessidades e expectativas. A equipa esteve em permanente diálogo com a comunidade, considerando ainda o facto de, na sua maioria, se tratar de uma população envelhecida. Tiago Mota Saraiva diz: “Tudo isto fazia-nos sentir que a arquitectura estava a fazer parte da sua própria recuperação”. Estar no terreno, fazer parte do processo de decisão, resolver o problema da habitação é para Tiago Mota Saraiva um trabalho social, que visa melhorar as condições dos arquitectos, da arquitectura e da própria comunidade.

 
 

Recuperação das Sete Casas, Tiago Mota Saraiva, ateliermob
© Foto Fernando Guerra | FG+SG

 

Episódio 06

 

“Tal como a vida, as obras são exercícios de crença, fé, esperança e resiliência. Nós temos de ter a humildade, o bom senso e a calma para ir levando a Obra e a Vida com essa esperança.” [Nuno Valentim]

 
  • As suas origens remontam a 1838, altura em que a Câmara do Porto adquiriu o terreno e construiu uma praça. Em 1914, iniciou-se a construção do actual edifício, num projecto desenhado pelo arquitecto António Correia da Silva. Tratou-se de uma obra de vanguarda para a época. Nos anos 80 realizaram-se várias soluções provisórias, que viriam criar anomalias e dificultar a utilização do edifício. A cobertura em ardósia, por exemplo, foi substituída por uma tela a imitar a ardósia e os elementos metálicos e as lajes de betão necessitavam de um reparo urgente. Portanto, a necessidade de obras no edifício já tinha sido identificada, há alguns anos, e surgiram várias propostas que estiveram em cima da mesa, mas apenas a que hoje está em construção ofereceu a possibilidade de manter o mercado de frescos exterior, garantindo o acesso pedonal nas quatro entradas principais. Vital para a alma da Invicta, o projecto de reabilitação do Mercado do Bolhão garante a integridade patrimonial do edificado e cria também uma nova relação com a cidade, aumentando assim a sua acessibilidade, transparência e funcionalidade. Conhecido pela qualidade das suas obras de reabilitação, restauro e conservação, o arquitecto Nuno Valentim faz-nos viajar pelos sons, aromas e sabores do Mercado do Bolhão e, em dado momento da entrevista, estabelece uma relação entre a arquitectura e a vida: “Tal como a vida, as obras são exercícios de crença, fé, esperança e resiliência. Nós temos de ter a humildade, o bom senso e a calma para ir levando a Obra e a Vida com essa esperança”.

 
 

Reabilitação do Mercado do Bolhão, Nuno Valentim, Arquitectura
© Fonte LT Studios

 

Episódio 07

 

"Penso que todas as pessoas que estão envolvidas no processo têm entusiasmo com a obra do Terminal Intermodal de Campanhã. E quando digo pessoas refiro-me ao construtor, à fiscalização, ao dono de obra, nós, os projectistas, e os operários que estão lá a trabalhar. Entro naquela obra e sinto que as pessoas estão motivadas. Aquilo é estimulante!" [Nuno Brandão Costa]

 
  • O concurso, promovido pela Câmara Municipal do Porto, pretendia articular os serviços já existentes – como o ferroviário e o metro – com o transporte rodoviário, colectivo e particular. A proposta do arquitecto Nuno Brandão Costa foi seleccionada entre as 22 candidaturas e mereceu a unanimidade do júri por valorizar o espaço para os utentes na futura gare, bem como a sustentabilidade ambiental. Com uma área bruta de construção de cerca de 24 mil metros quadrados, o projecto do Terminal Intermodal de Campanhã visa diminuir o uso do automóvel no centro urbano e fomentar a mobilidade de transportes, passageiros e residentes.

 
 

Terminal Intermodal de Campanhã, Nuno Brandão Costa
© Fonte Câmara Municipal do Porto

 

Episódio 08

 

“No outro dia, cruzei-me com um aluno e perguntei-lhe se gostava de estar nesta residência e ele disse que adorava esta ideia de as portas se abrirem e de falar com os colegas da frente!” [Cristina Veríssimo]

“Queremos que as pessoas se sintam bem, se sintam em casa e que consigam construir relações de afecto com estes espaços.” [Diogo Burnay]

 
  • Ambos estudaram na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa e, actualmente, aliam a prática à investigação e ao ensino. O seu mérito tem sido reconhecido internacionalmente e é a partir desse cruzamento de saberes que este duo nos fala sobre o projecto da residência de estudantes do campus da Ajuda da Universidade de Lisboa. Conscientes do tecido social e arquitectónico, os arquitectos perceberam numa fase inicial do projecto que pretendiam “construir cidade”. A implantação da nova residência desenvolveu-se na continuidade do edifício da Cantina Universitária, em torno de um pátio central comunitário.

 
 

Residência Universitária do campus da Ajuda em Lisboa, Cristina Veríssimo e Diogo Burnay © Foto Fernando Guerra | FG+SG

 

Episódio 09

 

“E eu recordo que não há aqui ninguém que esteja a ouvir esta conversa que não tenha ido já a uma estrutura conventual e que essa mesma estrutura não tenha sido, entretanto, transformada em hospital, em escola, universidade, ou num museu. Portanto, o que é que isto nos quer dizer? Isto diz-nos que um bom edifício, uma boa espacialidade pode ter múltiplas funções ao longo da sua vida.” [Ricardo Bak Gordon]

 
  • O Museu dos Coches cruza a história de dois países em dois continentes. O edifício começou por ser desenhado, em 2008, pelo arquitecto Paulo Mendes da Rocha, em São Paulo, e depois seguiu para o escritório do arquitecto Ricardo Bak Gordon, em Lisboa. Localizado ao lado de patrimónios mundiais da UNESCO como a Torre de Belém e o Mosteiro dos Jerónimos e de monumentos nacionais como o Palácio Nacional de Belém, o edifício do novo museu é hoje um dos mais visitados de Portugal e alberga a maior colecção de coches no mundo. Ao longo da conversa, o arquitecto Ricardo Bak Gordon refere que o novo Museu Nacional dos Coches acaba por ser construído como se ele próprio fosse uma cidade. Os dois volumes do edifício, o pavilhão principal com uma nave suspensa para exposições e o edifício anexo, encontram-se pousados numa praça informal, feita para ser atravessada.

 
 

Museu Nacional dos Coches, Bak Gordon Arquitectos
© Foto Fernando Guerra | FG+SG

 

Episódio 10

 

"A grande preocupação nestes espaços (e de uma forma geral em toda a Arquitectura que nós fazemos) é a questão da luz, a questão da reflexão e do conforto dos espaços. Não ter demasiada luz directa, mas poder ter sempre luz natural." [Paula Santos]

 
  • A história da Efanor (Empresa Fabril do Norte) remonta a 1907. A Fundação Belmiro de Azevedo preservou o antigo edifício social da empresa têxtil e promoveu amplas obras de restauro e ampliação para aí dar início ao processo de construção do Pólo I do Colégio Efanor. Durante o processo de investigação, a arquitecta Paul Santos debateu ideias com vários orientadores pedagógicos e inspirou-se nas escolas que o holandês Herman Hertzberger projectou, ligadas ao projecto educativo do Método Montessori. Quando os alunos começaram a precisar de prosseguir para as turmas do 2.º e 3.º ciclos e ensino secundário, foi pedido à arquitecta para projectar o segundo pólo do Colégio Efanor.

 
 

Colégio Efanor (Pólo I e II), Paula Santos © Foto Luís Ferreira Alves

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