[PODCAST]

 

Na terceira temporada, estivemos à conversa com os arquitectos Carlos Antunes, Désirée Pedro, Adalberto Dias, Pedro Guimarães, Eduardo Souto de Moura, Diogo Aguiar, João Maria Trindade, António Cerejeira Fontes, Marcio Kogan, Diana Radomysler, Suzana Glogowski, Bruno André, Francisco Salgado Ré, Adriana Floret, Nuno Grande, Rui Dinis, Henrique Marques, João Caldeira Ferrão, João Costa Ribeiro, Sofia Couto, Sérgio Antunes e Gonçalo Byrne.

3.ª Temporada

 

Episódio 26

 

“Na Arquitectura, o nosso papel como arquitectos, é respeitar absolutamente e dignificar a vida tão frágil daquelas pessoas... e projectar para aquelas pessoas como projectamos para qualquer pessoa. Este pensamento de que «aquelas pessoas não merecem uma arquitectura tão boa» é algo que nos deixou profundamente chocados.” [Carlos Antunes]

 
  • Este projecto surge na sequência da reabilitação e da ampliação do edifício Bento Menni, em Condeixa-a-Nova. Partindo de uma uma estrutura inadequada, que não satisfazia as necessidades de uma unidade de saúde, os arquitectos do Atelier do Corvo analisaram a preexistência e fizeram mudanças substanciais. Quando se deslocaram, pela primeira vez, ao edifício, a arquitecta Désirée Pedro lembra a frieza dos espaços e “a desolação dos materiais”. Já o arquitecto Carlos Antunes ficou com a sensação de ter sido transportado para o filme Voando Sobre um Ninho de Cucos. Esse lugar, que remetia para a imagem de abandono nunca saiu da memória de ambos e foi, nesse sentido, que procuraram “criar um ambiente que fosse confortável física e mentalmente”, de modo a “dignificar a vida daquelas pessoas”. Porém outras anomalias viriam a surgir. Desta vez, não ao nível da decrepitude da estrutura inicial, mas sim no contexto das mentalidades. O arquitecto Carlos Antunes lembra um episódio em que uma das técnicas responsáveis pelo instituto teceu um triste comentário: “Eu penso que a solução apresentada, pelos arquitectos, é boa demais para estas pessoas”. Perante esta afirmação, ambos ficaram profundamente chocados.

 
 

Casa de Saúde Rainha Santa Isabel © Foto Maria Bicker

 

Episódio 27

 

“A arquitectura tem, naturalmente, muitas expressões e, em certo sentido, não tem limites. É infinita.” [Adalberto Dias]

 
  • No lugar do Elevador dos Guindais houve, no século XIX, outro funicular a funcionar. Previa-se que este fosse o primeiro de uma série de transportes semelhantes a construir no Porto, em zonas de grande desnível, com vista a fomentar “o desenvolvimento da cidade” e “a introdução de comodidade, eficácia e rapidez”, na ligação entre diferentes partes da cidade. No entanto, dois anos após o seu funcionamento, um inesperado acidente ditou o seu encerramento.

    No ano de 2003, no âmbito do plano de reabilitação urbana do Porto 2001, Capital Europeia da Cultura, Adalberto Dias, propõe um novo Funicular nos Guindais, com vista “a reposição da actividade urbana na própria encosta”. Como este território conheceu profundas transformações urbanas, ao longo da sua história, o arquitecto teve de responder a vários desafios. Por um lado havia a cidade a duas cotas e a necessidade de ouvir o testemunho do tempo e da preexistência; por outro, existia a necessidade de uma estrutura que ligaria a área de intervenção com a rede urbana como um todo. O novo Funicular dos Guindais entrou em funcionamento, em 2004, e, durante a entrevista, o arquitecto esclarece que um dos principais focos foi enquadrar o equipamento num sistema integrado de ligações mecanizadas, articulando acessos entre os diferentes meios de transporte (metro, eléctrico e autocarro).

 

Funicular dos Guindais © Foto Luís Ferreira Alves

 

Episódio 28

 

“Mas quando lá vou, agora, visitar o edifício fico um bocado desiludido porque, de uma forma geral, tudo o que é edifício público não tem manutenção." [Pedro Guimarães]

 
  • Os arquitectos Pedro Guimarães e José António Barbosa usaram uma versão do modernismo clássico para alcançar a dignidade e o simbolismo que um edifício como o tribunal deve ter. A inscrição, em latim, que se encontra nos pilares – ‘Domus Iustitiae’ – quer dizer “Casa da Justiça” e acrescenta o apelo “a uma cidade mais justa”. Como se remetesse para o culto sagrado, esta simbologia procura dignificar o Tribunal, transmitindo quase a ideia de “uma justiça acima da nossa justiça”.

    Em diálogo com os muros de granito que definem a sua envolvente, actualmente a praça assume-se como um embasamento de pedra, sobre o qual repousa o Palácio da Justiça. Apesar desta ideia da praça não constar inicialmente no programa, os arquitectos avançaram com a proposta para que a praça permitisse a transparência e a ligação entre os jardins, que fazem fronteira a norte e a sul. Através desta premissa, conseguiram a permeabilidade e fluidez do espaço público: “Antes de construirmos um edifício, há sempre a ideia de urbanidade, de fazer cidade. A nossa ideia foi, precisamente, construir a praça, (...) e unir espaços de cidade”, explica Pedro Guimarães.

 

Palácio da Justiça de Gouveia © Foto José Campos

 

Episódio 29

 

“Quando eu vou ver o que está a ser feito e o que se diz… É um frio na espinha terrível e as pessoas não sabem disso... As pessoas depois criticam em frente à obra e dizem: «Se fosse a ti tinha cortado ali e acolá...» Está bem… mas é que eu comecei aqui com uma folha A4. Eu não fazia a mínima ideia de como é que isto ia ficar… porque há uma ideia de que os artistas é gente… que não são humanos… mas são seres humanos iguais aos outros e corremos os mesmos riscos de falhar." [Eduardo Souto de Moura]

 
  • O arquitecto Eduardo Souto de Moura explica como o projecto do Estádio Municipal de Braga ficou no seu currículo por mera casualidade. Eduardo Souto de Moura começa por contar que, numa fase inicial, os vereadores da autarquia pensaram encomendar o projecto ao arquitecto Norman Foster. Como consideravam os seus honorários elevados, descartaram essa hipótese, prosseguindo para uma segunda escolha: o arquitecto e engenheiro Santiago Calatrava. A fim de o contactarem, o executivo municipal telefonou ao arquitecto Eduardo Souto de Moura para saber se este poderia facultar o número de telefone. Sem rodeios e directo ao assunto, Souto de Moura advertiu que Santiago Calatrava não seria assim tão pouco dispendioso como eles julgavam. A conversa prosseguiu o seu rumo até que do outro lado da linha, Eduardo Souto de Moura foi indagado com a seguinte questão: «Olhe, diga-me uma coisa: você não quer construir o estádio?». Ao que ele respondeu prontamente: «É evidente que sim!». Foi esse mesmo «sim» que deu origem ao projecto arrojado com duas bancadas, uma de cada lado do campo de jogo, com uma cobertura suspensa por cabos.

 
 

Estádio Municipal de Braga © Foto Christian Richters

 

Episódio 30

 

“Talvez possamos fazer a analogia de que um bom vinho deve saber envelhecer e, nesse sentido, eu diria que uma boa arquitectura também deve saber envelhecer." [Diogo Aguiar]

 
  • A Quinta da Aveleda goza de um património edificado invulgar onde, para além da área de produção vinícola, destacam-se os seus “belíssimos jardins do século XIX”, que ostentam uma paisagem repleta de romantismo. A busca por um espaço de enoturismo, levou à reabilitação/reconversão do Edifício da Eira (um antigo edifício agrícola). E não é por acaso que, logo no início da nossa conversa, o arquitecto Diogo Aguiar sublinha a simbiose entre o vinho e a arquitectura, afirmando que, “tal como um bom vinho, um bom edifício tem de saber envelhecer”. Na tentativa de criar uma estrutura que resistisse ao teste do tempo, Diogo Aguiar procurou nesta intervenção conjugar dois pontos: ler e respeitar o passado, sem o procurar mimetizar; e intervir no edifício, situando-o no século XXI. Através da “narrativa arquitectónica” do Diogo Aguiar Studio, o edifício passou a ser um espaço inteiramente dedicado ao enoturismo, servindo também de edifício-museu, que conta a história da família e dos seus vinhos: “Estamos a falar de um produto natural e, portanto, referimo-nos a algo que pretende passar determinados valores. Entre esses valores, um daqueles que é mais importante transmitir é a autenticidade”.

 

Quinta da Aveleda © Foto Fernando Guerra | FG + SG

 

Episódio 31

 

“O edifício foi, logo, um grande sucesso junto dos animais, o que… sendo uma estação biológica era a melhor forma de elogio que poderíamos ter tido." [João Maria Trindade]

 
  • A história deste projecto remonta ao ano de 1997. Nessa época, o antigo posto de controlo fronteiriço foi adquirido pelo Centro de Estudos da Avifauna Ibérica (CEAI) com o objectivo de o transformar numa estrutura de promoção de acções de sensibilização ambiental: “O projecto, que o CEAI candidatou a financiamentos comunitários, tinha a ver com o estudo da Águia-de-Bonelli, que estava em extinção. Portanto, era necessário haver este posto avançado para o estudo dessa ave e houve imensas discussões com os associados do CEAI sobre os materiais a utilizar no edifício”, conta. Numa área protegida, classificada como Rede Natura 2000 e, em plena Zona de Protecção Especial (ZPE) para Aves Moura/Mourão/Barrancos, esta casa virada para a natureza quase levita sobre a paisagem, deixando-a fluir como se fosse um pássaro que quer flutuar no horizonte alentejano: “O edifício define um recinto, como é muito próprio da arquitectura tradicional, na bacia do Mediterrâneo. Existe esta ideia do pátio, uma coisa voltada em torno de um pátio, mas, por outro lado, como a estrutura está sobrelevada, esse pátio não é um pátio de clausura completo (...). Ou seja, não tem limites”.

 
 

Estação Biológica do Garducho © Cortesia de Ventura Trindade Arquitectos

 

Episódio 32

 

“A arquitectura tem de ser capaz de transformar e não apenas existir sem que se dê por ela. Às vezes é importante que exista que sem se dê por ela porque é esse o papel da arquitectura, mas ela, por norma, tem de transformar e mudar a vida das pessoas para melhor. A arquitectura é das profissões mais apaixonantes porque é uma profissão que transforma as coisas e tem um contributo enorme para aquilo que é a vida das pessoas.”  [António Cerejeira Fontes]

 
  • A Capela Imaculada foi construída após a Segunda Guerra Mundial e apresentava sinais de degradação ao nível das suas estruturas e materiais. A intervenção que começou a ser delineada em 2014 tinha dois objectivos: reabilitar a Capela Imaculada e criar uma capela ajustada à comunidade residente. Daí resultou a Capela Cheia de Graça, que se insere na Capela Imaculada da Conceição. A Capela Imaculada, de maior dimensão, apresenta uma abóboda de betão, que é suportada por uma estrutura em aço quase imperceptível a quem observa, dando a sensação que se encontra suspensa. Bastante austera, esta capela aproveitou o pé direito total do espaço de intervenção e as paredes exteriores do mesmo. No extremo desta nave, junto à entrada, eleva-se uma estrutura de madeira, que filtra o acesso ao espaço da celebração. É aí que está a Capela Cheia de Graça.

 

Capelas Imaculada e Cheia de Graça © Foto Nelson Garrido

 

Episódio 33

 

“Eu lembrei uma frase do Niemeyer que falava que a arquitectura não é importante. O importante é a vida, os amigos, a família... E aí eu acrescentei: «e um bom churrasco!»” [Marcio Kogan]

 
  • Contrariamente a Portugal, o Brasil tem um clima predominantemente tropical, por isso a sua arquitectura propicia a fluidez dos espaços, não só por meio da permeabilidade entre o interior e o exterior, mas também pela forma como o passado colonial português deixou marcas no território. Conhecido pelo seu perfeccionismo e fascinado pela sétima arte, Marcio Kogan trouxe para o Studio MK27 o trabalho colectivo e a “cultura de fazer tudo”. Nesse contexto, a equipa pensa a arquitectura como um todo: “Eu acho que sempre que nós projectamos fazemo-lo a pensar no uso. Se nós pensarmos no uso, pensamos nos interiores dessa casca. E se só pensarmos na casca acaba-se por projectar uma escultura e não um lugar para viver, um lugar para estar, um lugar para usar. Para nós tanto essa integração entre o interior e o exterior – que por causa do clima é uma coisa muito natural –, como o interior estão absolutamente ligados com o acto de projectar”, explica Diana Radomysler, directora do departamento de Design e Interiores do Studio MK27.

 
 

Casa C+C © Foto Fernando Guerra | FG + SG

 

Episódio 34

 

“A nossa geração ficou muito mais habilitada e capaz de pensar a arquitectura e os problemas de forma diferente... na forma como dialogamos com os clientes, na forma como dialogamos com os players e também na forma como nós próprios nos mostramos ao mundo. Ficamos possivelmente mais abertos e permeáveis àquilo que as pessoas têm para dizer, bem como às próprias dificuldades para que consigamos encontrar resultados positivos de que todos nós nos orgulhemos.” [Francisco Salgado Ré]

 
  • Entre o primeiro concurso público internacional, que venceram em 2010, e a inauguração do Centro de Artes passaram sete anos. Actualmente, sabe-se que o edifício com 4.500 m2, com um orçamento de quatro milhões de euros, foi projectado em plena crise financeira, com parcos recursos económicos. Perante um programa ambicioso, este projecto revelou-se “um pequeno grande milagre” para a AND-RÉ, empresa de arquitectura e design nascida em 2008. Nesse contexto, Bruno André e Francisco Salgado Ré procuraram não só responder às necessidades do cliente – a Câmara Municipal de Águeda –, mas também encontrar um equilíbrio entre a criatividade, o diálogo com as equipas especializadas e aquilo que era viável executar numa conjuntura de grande fragilidade. Estava-se “no pico da crise”, por isso “os sistemas construtivos tiveram de ser muito bem ponderados” para responder aos objectivos e às ambições de um programa complexo.

 
 

Centro de Artes de Águeda © Foto Fernando Guerra | FG + SG

 

Episódio 35

 

“Eu acho que, quando trabalhamos com espaços culturais, essa flexibilidade do espaço é muito importante. E nós, às vezes, acho que temos tendência a criar espaços muito estanques, não é? Porque imaginámos, porque idealizámos o branco e a parede de uma determinada forma... e o móvel se calhar tem de ficar aqui... e num espaço cultural isso não é possível nem desejável.” [Adriana Floret]

 
  • Em 2001, Adriana Floret fundou o gabinete Floret Arquitectura e fez os primeiros levantamentos patrimoniais para a Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) do Porto. A arquitecta lembra-se de haver quarteirões inteiros, como na Rua do Almada, em que existiam apenas dois habitantes. E recorda também um telefonema que fez a um proprietário de dois prédios na Rua de Mouzinho da Silveira para fazer um levantamento e a voz do outro lado da linha lhe começar a negar que ali tivesse alguma propriedade, tal era o esquecimento e a desvalorização de um património que hoje em dia vale milhões: “Nós passámos por situações que, às vezes, as pessoas pensam que não é real, mas é a verdade. Quando ligávamos, por vezes, as pessoas diziam: «Eu ofereço o prédio porque isto só me dá prejuízo. Não quero nada disto». E agora temos uma realidade completamente diferente, onde ruas como estas são “das mais cobiçadas pelos investidores”.

 
 

Espaço Mira e Mira Fórum © Foto João Morgado

 

Episódio 36

 

“Quando a Sara me convidou e me disse que o programa se chamava ‘No País dos Arquitectos’, eu lembro-me de ter respondido: «No País dos Arquitectos há muitos mais cidadãos e muitos mais povos. Um arquitecto não faz uma obra sozinho.» Portanto, é o espírito de equipa e uma equipa interdisciplinar (ou multidisciplinar) que leva a que aquele projecto possa ganhar consistência e coerência." [Nuno Grande]

 
  • Com o ímpeto de trazer para a Invicta um “espaço de hospitalidade”, o atelier Pedra Líquida criou a Casa do Conto, na zona da Cedofeita. Cem anos passados, sem tocar no essencial, o edifício parte da reconstrução de uma casa burguesa do século XIX. Porém, em Março de 2009, poucos dias antes da inauguração, dá-se um incêndio, que destrói completamente o seu interior: “Foi traumático porque o primeiro projecto era um projecto quase de restauro. O edifício estava em muito bom estado e, após o incêndio, ficamos apenas com as fachadas. Na verdade com a fachada principal. E tivemos de reinventar totalmente o interior”, recorda o arquitecto.

 

Conto: Casa e Tipografia © Foto Fernando Guerra | FG + SG

 

Episódio 37

 

“Eu acho que se há uma coisa que nós temos nestes ‘loucos anos 20’ é, precisamente, esta diversidade de linguagens de arquitectura, quer em Portugal, felizmente, que já se libertou muito das linguagens de cada uma das escolas... Eu acho que as gerações actuais estão a fazer arquitectura de várias formas e de vários caminhos, todos eles muito importantes e muito ricos e eu acho que essa diversidade é precisamente a coisa gira deste período em que vivemos.” [Henrique Marques]

 
  • A Rota do Românico surgiu do esforço conjunto dos concelhos que integram a VALSOUSA - Associação de Municípios do Vale do Sousa, em colaboração com o Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) e a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGMEN), que actualmente integram a DGPC. A Rota do Românico reúne, hoje, 58 monumentos e dois centros de interpretação. O Centro de Interpretação do Românico é o lugar ideal para começar esta rota, uma vez que explica de forma interactiva vários detalhes ligados à arquitectura românica: “Quando fomos contactados para fazer este edifício soubemos que era para ter um carácter mais museográfico ou museológico do que na realidade tem. Isto porque, na altura, a Rota do Românico recebeu o espólio da extinta DGMEN (...), e houve uma série de peças e materiais, que foram retirados de algumas das igrejas pertencentes à Rota do Românico”, começa por contextualizar o arquitecto Henrique Marques.

 

Centro de Interpretação do Românico © Foto Fernando Guerra | FG + SG

 

Episódio 38

 

“Tentar não fazer uma arquitectura que é só uma composição, mas, sobretudo, tentar que tudo possa ser alterado, que as pessoas possam alterar os espaços, que as pessoas possam com um dispositivo mudar a forma como o espaço está a ser utilizado.” [João Caldeira Ferrão]

 
  • O projecto parte da transformação de uma antiga adega numa moradia unifamiliar. Logo no início da entrevista, o arquitecto João Caldeira Ferrão lembra como tudo começou: “A adega pertencia aos meus avós (...). A Sónia Caldeira quis transformá-la em casa e contactou-nos por causa deste projecto”. Como a Sónia é arquitecta paisagista e o marido é agrónomo, os Extrastudio optaram por criar uma casa que promovesse uma relação “muito directa” entre o interior e o exterior. A preservação do laranjal ditou grande parte do projecto e os arquitectos garantem que a liberdade que a casa proporciona aos moradores é mais importante do que a imposição de uma “experiência estética”. João Costa Ribeiro defende ainda que “a lógica da economia circular” tem de voltar para a arquitectura não só por uma questão de pragmatismo, mas também para quebrar a obsolescência programada: “Acho que nós devemos pensar – a arquitectura, enquanto prática, e os arquitectos, enquanto classe – em edifícios resilientes e edifícios que possam contornar esta questão do tempo”. Ou seja, “há uma questão de justiça que é aliada à economia”, onde o envelhecimento não só faz parte do projecto, como é visto com bons olhos.

 
 

Casa Vermelha © Foto Fernando Guerra | FG + SG

 

Episódio 39

 

“Tu vias o Fernando Pessoa na rua e ele era um senhor igual aos outros todos, compostinho, com o chapelinho, mas depois tinha uma grande explosão interior. O que nos fez ver tantos destes edifícios é isso mesmo: há muitos edifícios de explosão interior.” [Sérgio Antunes]

 
  • Na sua 11.ª edição, o Open House Lisboa regressa mais cedo do que o habitual e realiza-se já neste fim-de-semana, a 14 e 15 de Maio. Sofia Couto e Sérgio Antunes foram rebeldes ao ponto de quererem dar visibilidade a uma arquitectura invisível, por isso o tema proposto para este ano é “A Rebeldia do Invisível”. O principal objectivo é explorar o que se esconde por detrás das fachadas, que não deixam antever os seus interiores: “A nossa ideia começou por procurar esta cidade mais anónima, mas acabamos por ir parar também a alguns edifícios de excepção, nomeadamente a alguns palácios. (...) Temos, inclusive, situações que já vêm detrás que revelam as adaptações que os interiores precisam de sofrer para se irem adaptando aos novos usos”, começa por esclarecer Sofia Couto. Como existe essa capacidade da arquitectura se transformar ao longo dos anos, os arquitectos procuraram trazer para este evento espaços que, de certa forma, representassem essa metamorfose: “A maior parte dos edifícios que nós trazemos aqui são edifícios que ilustram esta questão, que ilustram este desfasamento entre o exterior e o interior. (...) Eu não queria fazer nenhum moralismo a partir da ideia de coerência entre interior e exterior. Aliás, acho até muito interessantes esses contrastes de tempo, muitos dos edifícios que nós temos aqui expõem esse contraste. Eles atacam, usam e brincam com esse contraste, entre os dois tempos”, explica Sérgio Antunes.

 

Apartamento Chagas © Foto Fernando Guerra | FG + SG

 

Episódio 40

 

“O que é curioso é que as cidades têm esse lado do património, mas depois tem o outro lado que é a cidade viva. Se a cidade viva não se adapta minimamente e se os edifícios não se adaptam aos modelos de vida, que se vão transformando, arriscam-se seriamente a ficarem desertos e a própria cidade ser abandonada e virar um campo arqueológico.” [Gonçalo Byrne]

 
  • Este é o último episódio da terceira temporada do podcast e Gonçalo Byrne, para além de falar desta intervenção, realça também, enquanto presidente da Ordem dos Arquitectos (OA), a importância da arquitectura na vida das pessoas. Logo no início da entrevista, Gonçalo Byrne reconhece que, em Portugal, existem muitas lacunas. Se, por um lado, afirma que o país tem uma “visão hiper-legislativa”, por outro defende o diálogo entre os diferentes intervenientes para que os arquitectos possam participar não só no “fazer cidade”, mas também para garantir que os critérios de qualidade sejam aplicados nas diferentes intervenções: “O modelo da contratação no exclusivo critério da oferta mais baixa é aplicado na ordem dos 90, ou 90 e tal por cento. Ou seja, os outros modelos, do Código dos Contratos Públicos (CCP), não são aplicados. O que é que isto quer dizer? Quer dizer: adjudicar ao preço mais baixo, sem ter mais nenhuma outra preocupação é um pensamento único de um critério único que, obviamente, não é um critério de qualidade. Quando muito é um critério de quantidade financeira. Portanto, não há qualquer preocupação da qualidade da resposta. Existe, claramente, uma falta de diálogo entre as formas de conhecimento, entre as profissões e há uma concentração numa jurisprudência, que é fundamental, que é importantíssima, mas que devia estar integrada no mundo do conhecimento bastante mais abrangente”.

 

Edifício Sede do Banco de Portugal © Foto José Manuel Rodrigues

O que os arquitectos dizem do nosso podcast

O que nos escrevem

O nosso mapa

Os projectos do nosso podcast espalhados pelo país.

Parcerias Media