[PODCAST]

 

Na segunda temporada, estivemos à conversa com os arquitectos Carvalho Araújo, Guilherme Machado Vaz, Cristina Guedes, Francisco Campos, Carlos Azevedo, João Crisóstomo, Luís Sobral, José Mateus, Frederico Valsassina, Paulo Martins Barata, Camilo Rebelo, Pedro Matos Gameiro, Pedro Domingos, Luís Rebelo de Andrade, Kengo Kuma, Rita Topa, Susana Rosmaninho, Pedro Azevedo, João Pedro Serôdio, João Carlos Santos e Manuel Aires Mateus.

2.ª Temporada

 

Episódio 11

 

“Visitando a casa temos esse sentimento, essa sensação de qualquer coisa que nos é oferecida e que não sabemos explicar. Eu acho que isso é bom para a arquitectura.” [Carvalho Araújo]

 
  • Onde agora se situa a casa, houve outrora uma pequena habitação que estava sujeita a pequenas derrocadas nas intempéries dos rigorosos invernos. Essa construção existente na cota superior do terreno determinou a deslocalização da nova casa, a demolição da anterior e, consequentemente, a “domesticação” da linha do ribeiro. A nova habitação, localizada numa encosta íngreme do Vale da Caniçada, na região de Vieira do Minho, estrutura-se em dois elementos, um volume elevado de madeira que repousa sobre uma plataforma de betão, que se estende sobre a terra e na linha de água. No piso 0, a Casa do Gerês abre-se para o terreno e mantém um diálogo com a natureza, criando um equilíbrio entre a construção e a atmosfera do lugar. O espaço social da casa materializa-se num grande espaço central, que se estende para o exterior com uma grande varanda. Nesse mesmo piso encontram-se também presentes a cozinha e os serviços. Já num segundo nível, surge o programa mais íntimo que se relaciona com o anterior sob a forma de mezzanine.

 
 

Casa do Gerês, Carvalho Araújo © Foto Hugo Carvalho Araújo

 

Episódio 12

 

“Foi isso que eu aprendi com este projecto… No fundo, foi a olhar para o património e para as preexistências com maior responsabilidade e respeito por aqueles que as desenharam originalmente.” [Guilherme Machado Vaz]

 
  • Localizada na Av. Menéres, em Matosinhos, a Casa da Arquitectura ocupa o quarteirão da antiga Real Companhia Vinícola, o primeiro edifício industrial implantado em Matosinhos Sul. Construído de raiz entre 1897 e 1901, quando a família Menéres deixou a barra do Douro e se instalou próxima do novo porto de Leixões, o complexo industrial era constituído por armazéns com a finalidade de embalagem e exportação de vinho, laboratórios de análise, carpintaria e contava com a primeira tanoaria a vapor existente na região. Depois de estar ao abandono durante 80 anos, a Real Vinícola foi adquirida pela Câmara de Matosinhos, em 2000, e obteve a classificação de monumento de interesse público. A partir da investigação desta estrutura industrial (da autoria do engenheiro António da Silva), o arquitecto Guilherme Machado Vaz guia-nos numa conversa sobre a adaptação deste espaço a novas funções, debruçando-se também sobre a história e a sua importância na memória colectiva: “Eu quis que o edifício preservasse a imagem original para que, simultaneamente, conservasse a memória do que foi e das pessoas que lá viveram e que lá estiveram. Obviamente que, tendo um novo programa funcional, houve adaptações que tiveram de ser feitas”.

 
 

Casa da Arquitectura, Guilherme Machado Vaz © Foto Luís Ferreira Alves

 

Episódio 13

 

“Os arquitectos desenham o futuro. O futuro é incerto e indeterminado, por isso encontrar as certezas – que são normalmente as infraestruturas – é sempre a nossa preocupação quando projectamos e quando olhamos para a cidade.” [Cristina Guedes]

 
  • Resultado de uma colaboração entre o atelier Menos é Mais (Porto) e o arquitecto João Mendes Ribeiro (Coimbra), esta intervenção une diferentes tempos, explorando o contraste entre as linguagens construtivas do passado e presente. O principal objectivo do projecto era manter o carácter do edifício industrial do século XIX, criando um diálogo entre a estrutura preexistente (antiga fábrica de álcool e tabaco) e o novo (centro de arte e cultura, com residências artísticas, oficinas, salas expositivas, espaços multiusos, laboratórios, estúdios de arte). Durante a nossa conversa, os arquitectos lembram que a primeira vez que observaram a imagem do edifício industrial foi na folha de rosto do concurso público internacional. A fotografia revelava as ruínas da fábrica com as cumeeiras do telhado a relacionarem-se com a montanha da Serra de Pau. Segundo a arquitecta Cristina Guedes, o mais importante era “preservar aquela ruína e prolongar os edifícios no tempo, permitindo que eles fossem transformados e ocupados de diversas formas”.

 

Arquipélago - Centro de Artes Contemporâneas, Cristina Guedes e Francisco Vieira de Campos © Foto José Campos

 

Episódio 14

 

“Pensar que a Arquitectura é algo que nós fazemos, enquanto arquitectos, com generosidade para abrigar acções e para abrigar vida. Quando estamos a pensar os edifícios temos de pensar nisso. Temos de pensar no que é que as pessoas vão fazer neles e como é que vão lidar com eles.” [Luís Sobral]

 
  • ‘In Conflict’ sugere uma resposta directa à questão “How will we live together?” (“Como vamos viver juntos?”), colocada por Hashim Sarkis, o curador da Bienal de Arquitectura em 2021. O arquitecto João Crisóstomo faz questão de realçar que viver em democracia é viver em conflito, por isso nesta representação de Portugal, o objectivo é revisitar processos de arquitectura marcados pelo debate público. A partir de temas estruturantes para o país, os arquitectos construíram um percurso expositivo e seleccionaram sete processos de habitação colectiva. As Torres do Bairro do Aleixo, no Porto, o Conjunto Habitacional “Cinco Dedos”, em Lisboa, os “Índios da Meia Praia”, em Lagos, o Plano de Pormenor da Aldeia da Luz, em Mourão, a Reconversão do Estaleiro da Margueira, em Almada, a Reabilitação da Ilha da Bela Vista, no Porto, e a Reconstrução das Sete Casas Destruídas pelos Incêndios de 2017, em Figueiró dos Vinhos, Pampilhosa da Serra e Pedrógão Grande – são os processos documentados na exposição, que pode ser visitada até o dia 21 de Novembro.

 

‘In Conflict’ - Representação portuguesa na Bienal de Veneza, depA Architects © Foto José Campos

 

Episódio 15

 

“A Arquitectura não é uma disciplina, é o lugar onde vivemos todos.” [José Mateus]

 
  • Localizado na confluência da Rua Castilho com a Rua Padre António Vieira, o projecto nasce do redesenho e reconversão de um antigo edifício de escritórios num edifício residencial. Antes de avançar para o projecto, o arquitecto José Mateus lembra que, a partir da janela da sua casa, observava o edifício de escritórios (da autoria do arquitecto Tomás Taveira) e via “um ponto negro a irromper no meio da malha urbana”. Hoje o facto de o edifício de gaveto estar localizado numa zona onde existem várias construções de altura superior ao que usualmente se encontra na cidade, justificam a volumetria da torre. No fundo, o arquitecto procurou, através do novo desenho, mudar a percepção do edifício, tendo em conta “o tecido vibrante da cidade”, as texturas, os ritmos das janelas e a materialidade da pedra branca, cuja expressão varia consoante a evolução da luz em Lisboa.

 

Edifício Castilho 203, José Mateus (ARX Portugal)
© Foto Fernando Guerra | FG+SG

 

Episódio 16

 

“Eu gosto imenso quando chego a uma obra e a obra começa a fazer parte de todos os intervenientes. Toda a gente – desde o empreiteiro mais simples ao mais sofisticado – achava que estava a contribuir para qualquer coisa que era nova.” [Frederico Valsassina]

 
  • Durante as primeiras visitas ao local, Frederico Valsassina conta que, em conjunto com a arquitecta Susana Meirinhos, avaliou o que a paisagem pedia, tendo em conta a topografia do território. O principal objectivo dessas deslocações era perceber como é que poderiam desenvolver o projecto sem entrar em conflito com esse Alentejo quase intocável. Numa primeira leitura, ambos compreenderam que tudo apontava para a criação de uma adega subterrânea. Porém esse passo levantava novos desafios ao nível da ventilação. Como poderiam resolver este problema? A paisagem haveria de indicar a resposta.

 

Adega da Herdade do Freixo, Frederico Valsassina
© Foto Fernando Guerra | FG+SG

 

Episódio 17

 

“É mais interessante, com certeza, a possibilidade de trabalhar o tema da casa, que é o tema universal do arquitecto. Portanto, o que eu aprendi foi isso. Aprendi o gosto de fazer casas. Voltei a ter o gosto de fazer casas.” [Paulo Martins Barata]

 
  • No primeiro momento da entrevista, Paulo Martins Barata começa por falar sobre o espírito colaborativo do Promontorio, que funciona como um ‘atelier-escola’, onde são desenvolvidas competências que permite a cada um dos arquitectos pensar de forma independente, sem sucumbir à produção desenfreada: “O importante é manter a criatividade e o sentido crítico sobre o trabalho que se desenvolve para se conseguir fugir a essa ‘armadilha’, que é a produção sem critério ou a produção que tem como único fim a obtenção de honorários e o funcionamento de uma máquina”. À medida que a conversa avança, o arquitecto vai partilhando connosco novas reflexões. Entre elas, destaca-se o ponto de viragem, que surgiu a partir do meio da última década, e que o arquitecto denomina como ‘meta-modernismo’. Não sendo um movimento como o foi o pós-modernismo, para o entrevistado trata-se de uma sensibilidade que cria um “novo potencial de expressividade” e um “olhar crítico sobre o desenho e o projecto”. Como se pode perceber, a Casa da Volta foi pensada à luz dessa sensibilidade.

 
 

Casa da Volta, Paulo Martins Barata © Foto Alexandre Ramos

 

Episódio 18

 

"Nós somos os consumidores. O arquitecto é um construtor. Um construtor implica consumo e esse consumo implica ecossistemas e, com certeza, a eficácia da arquitectura. Isso hoje em dia não pode ser feito de outra maneira. Mais uma vez esse ‘awareness’, esse despertar, essa atenção tem de estar, desde o primeiro momento, em cima da mesa. O aluno se não começa a ter isso na escola, nunca mais vai começar." [Camilo Rebelo]

 
  • Embora a arquitectura seja a narrativa principal deste episódio, a verdade é que o arquitecto traça um conjunto de narrativas secundárias que têm como pano de fundo o tema da sustentabilidade. Em sintonia com a paisagem, o Museu do Côa encontra-se localizado no território do Alto Douro Vinhateiro e é a partir dessa relação que protege a arte rupestre do Vale do Côa. Ou recorrendo às palavras do arquitecto: “O Côa é um terraço que vê a paisagem – porque é a paisagem que é classificada – e faz dessa mesma paisagem a estrutura e a composição do próprio terraço”. Tendo em conta a importância que o tema da sustentabilidade assume na investigação desenvolvida pelo arquitecto, no primeiro momento da entrevista procura-se compreender como é que a arquitectura pode deixar de ser um problema para o planeta e passar a ser uma solução.

 
 

Museu de Arte e Arqueologia do Vale do Côa, Camilo Rebelo
© Foto António Jerónimo

 

Episódio 19

 

“As nossas melhores expectativas estão a ser cumpridas no sentido em que tanto as pessoas que trabalham na biblioteca, como as pessoas que a visitam encontram aí sempre uma espécie de um lugar de prazer.” [Pedro Matos Gameiro]

 
  • Esta dupla de arquitectos já colaborou, em conjunto, em dois concursos, sendo que o da biblioteca foi o primeiro. Neste projecto, tal como o subsequente, existia uma vontade muito concreta de procurar uma dimensão intemporal, de modo a garantir que os próprios espaços sobrevivessem ao seu tempo. Apesar de terem de responder aos requisitos de um programa, os arquitectos acreditam numa “prática de resistência”. Como prova dessa versatilidade, desenvolveram uma proposta crítica a esse mesmo programa e o projecto conheceu duas fases distintas: “No fundo, para isso é preciso haver uma intencionalidade de gestão de projectos, de modo a criar uma resistência a uma imposição de regulamentos e de medidas. Esse trabalho de resistência dá muito trabalho. Às vezes é uma luta difícil, mas nesta obra confirmou-se que vale a pena”, sublinha o arquitecto Pedro Domingos. Num primeiro momento foi construída a praça, onde se encontram as palmeiras, e, numa segunda etapa, desenvolveu-se a biblioteca. Aos arquitectos agradou-lhes, sobretudo, a ideia de que a biblioteca conseguisse “acolher um conjunto alargado de eventos, que vai muito para além do livro e da utilização tradicional da biblioteca”. Sabe-se ainda que a praça e o pátio não se encontravam abrangidos pelo programa, mas os arquitectos compreenderam que ambos os espaços seriam fundamentais para que “a biblioteca se construísse de forma plena”.

 
 

Biblioteca e Arquivo Municipal de Grândola © Foto Francisco Nogueira

 

Episódio 20

 

“É uma responsabilidade muito grande. Eu também costumo dizer que nós somos os guardiões da paisagem. Ou seja, o curso que nos deram – e a responsabilidade que temos em projectos a desenhar e a redesenhar as cidades e a reabilitar o nosso património – eu entendo como uma responsabilidade que me é posta em cima e tento levar isso muito a sério.” [Luís Rebelo de Andrade]

 
  • O arquitecto Luís é um óptimo contador de histórias e nelas viajamos até o processo de fazer o projecto: “Naquela obra, nós não estávamos só a fazer as Eco Houses e as Casas nas Árvores. Nós estávamos a fazer as Eco Houses, as Casas nas Árvores, a reabilitar o antigo edifício do Casino, a antiga capela e o Hotel Avelames que, hoje, é o Monte Avelames. Aliás, as Casas nas Árvores (chamadas Snake Houses, como foram baptizadas pelo próprio atelier) acontecem em cima do Monte Avelames. Ou seja, em cima do antigo hotel, que fazia parte integrante da paisagem”, lembra o arquitecto. As origens das termas de Pedras Salgadas, localizadas no concelho de Vila Pouca de Aguiar, remontam a 1879. As suas águas hipotermais foram amplamente utilizadas no alívio de diversas maleitas e, durante décadas, as termas tornaram-se num local de visita para milhares de pessoas. Porém, após a Segunda Guerra Mundial, com o avanço da medicina, a estância perdeu peso no mapa turístico e ficou devoluta. Onde outrora havia vida passou a existir isolamento, num interior cada vez mais desertificado. Passadas algumas décadas, a Unicer Turismo avançou com a reabilitação do parque, que envolvia as fontes onde é captada a icónica Água das Pedras e, entre 2007 e 2009, o histórico edifício do Balneário Termal foi reabilitado pelo arquitecto Siza Vieira.

 
 

Eco Houses, do Parque de Pedras Salgadas © Foto Fernando Guerra | FG+SG 

 

Episódio 21

 

“A Gulbenkian pode ser um sábio exemplo, no futuro, para esta convivência entre a Terra e nós.” [Kengo Kuma]

 
  • Inspirado pela arquitectura tradicional japonesa, Kengo Kuma afirma que “o protagonista deste projecto é o jardim” e Rita Topa, que trabalha no atelier Kengo Kuma & Associates e é responsável da equipa do projecto de extensão dos jardins da Gulbenkian, revela o que aprendeu com o premiado arquitecto sobre a arquitectura japonesa e como as suas origens também influenciaram a utilização de determinados materiais neste projecto. Para se compreender a intervenção, no contexto actual, é preciso recuar no tempo. No início da década de 1960, os arquitectos paisagistas Gonçalo Ribeiro Telles e António Viana Barreto iniciaram a concepção do que viria a ser um dos espaços mais emblemáticos da Fundação Calouste Gulbenkian: o jardim. Em 2019, o Museu Calouste Gulbenkian celebrou o seu 50º aniversário e, agora, o arquitecto Kengo Kuma, juntamente com Rita Topa, quer mostrar como este espaço, pensado para o futuro, “proporciona uma experiência especial com a natureza”, algo “tão necessário neste contexto da covid-19”.

 
 

Jardins da Gulbenkian © Imagem LUXIGON, Cortesia de Kengo Kuma & Associates

 

Episódio 22

 

“O que aprendemos com isto foi mesmo a importância da arquitectura e do papel da arquitectura que pode ter na transformação. Ou seja, verificamos como é que um pequeno equipamento e um investimento público podem trazer dinamismo. Fazer a diferença, no fundo.” [Pedro Azevedo]

 
  • Actualmente o CIVT, localizado na Estação Ferroviária de Foz Tua, ocupa dois edifícios, um em cada lado da linha ferroviária do Douro. Ao reabilitarem os dois espaços, os arquitectos viram uma oportunidade não só de dignificar o que outrora ali existiu, mas também de contribuir para o desenvolvimento da região. Durante a construção da barragem de Foz Tua, a UNESCO considerou que o Alto Douro Vinhateiro era altamente vulnerável a agressões pelos impactos causados pela construção da barragem. Nesse âmbito, a UNESCO exigiu ao Estado português um Plano de Gestão que compensasse a região. O Centro Interpretativo faz parte desse programa mais abrangente, ao abrigo das medidas de compensação associadas à controversa construção da barragem. Quando os arquitectos avançaram para o concurso público do Centro Interpretativo do Vale do Tua, a barragem já tinha entrado em fase de testes e a central hidroeléctrica encontrava-se, segundo Susana, “praticamente em funcionamento na sua totalidade”.

 
 

Centro de Interpretação do Vale do Tua (CIVT) © Foto Luís Ferreira Alves

 

Episódio 23

 

“Mas penso que o edifício é um instrumento e, portanto, cumpre também uma função no sentido de... Não sei se “facilitar” é a palavra correcta... Mas no sentido de contribuir para a eficiência e para o tempo em que ocorrem essas investigações e do modo como correm essas investigações.” [João Pedro Serôdio]

 
  • Resultando da união de três instituições diferentes – o Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), o Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP) e o Instituto Nacional de Engenharia Biomédica (INEB) – o i3S nasceu com a missão de dar resposta a problemas de saúde importantes e assume-se, actualmente, como o maior instituto de investigação em saúde de Portugal, agregando mais de mil colaboradores, o que implicou da arquitectura uma resposta pragmática e funcional para que cientistas possam encontrar respostas para as áreas do cancro, da neurobiologia e doenças neurológicas.

    Ao serviço da ciência, o edifício assume um carácter e uma escala adequada à sua função, favorecendo o espírito colaborativo e a abordagem multidisciplinar, entre os vários cientistas: “Penso que o edifício é um instrumento e, portanto, cumpre também uma função no sentido de... Não sei se “facilitar” é a palavra correcta... Mas no sentido de contribuir para a eficiência e para o tempo em que ocorrem essas investigações e do modo como correm essas investigações”, afirma o arquitecto.

 
 

Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S)
© Foto Luís Ferreira Alves

 

Episódio 24

 

“O desafio deste projecto... e falo como arquitecto e como projectista, mas na verdade o desafio é um desafio muito maior. O desafio, além de ser o de concluir um palácio passados 220 anos, como referiu... E nestas circunstâncias, depois de todos estes acidentes, depois de todos estes episódios que já mencionei e que são trágicos... existe o aspecto muito importante que é o de poder, pela primeira vez, expor uma colecção que nunca foi vista.” [João Carlos Santos]

 
  • Logo no início da entrevista, o arquitecto João Carlos Santos recua no tempo para compreendermos a intrincada história que aconteceu num pequeno pedaço da cidade de Lisboa e os vários momentos pelos quais o tesouro foi passando, ao longo de mais de dois séculos. O primeiro acontecimento mais marcante acontece com o violento tremor de terra, no dia 1 de Novembro de 1755. O sismo foi seguido de um maremoto que arrasou a cidade e, com ele, também a residência da família real no Paço da Ribeira. O rei e a família real foram poupados ao desastre. Receando um novo sismo, o monarca decide nunca mais residir num edifício de pedra e cal e muda a sua corte para o topo da colina mais ocidental de Lisboa, a Ajuda, uma zona menos propícia a fenómenos sísmicos.

    Nesse contexto, cria-se um novo edifício, que por ser composto de madeira passa a ser conhecido como “Real Barraca”. Muita da técnica construtiva usada neste edifício foi aplicada, posteriormente, na Baixa Pombalina, para resistir melhor aos possíveis abalos sísmicos. Porém, a “Real Barraca” teve uma vida efémera. Não foi destruída por um terramoto, mas sim por um incêndio.

 
 

Museu do Tesouro Real © Fonte DGPC

 

Episódio 25

 

"Uma das principais respostas que a arquitectura tem que dar é a resistência. A resistência que não é só uma resistência física. É também uma resistência programática. Nós já não podemos fazer edifícios que se tornam obsoletos num instante porque a sua função está ultrapassada." [Manuel Aires Mateus]

 
  • Manuel Aires Mateus recua a esse passado não só para constatar a transformação que o Cais do Sodré teve, nos últimos anos, mas também para perceber como é que o lugar foi encontrado antes da construção da nova sede da EDP: “As primeiras implantações na cidade são feitas do outro lado do rio, no Mar da Palha, e só depois é que vêm para este lado. É de facto este rio, este mar que temos à nossa frente que nos dá esta condição da cidade. Portanto, tudo aquilo que é a relação entre a cidade e o rio é sempre uma condição que Lisboa tem de privilegiar. (...) Quando nós olhámos para aquela zona em 2009 ou em 2010, percebemos que aquele era um sítio muito castigado da cidade. Aliás, a cidade, de forma geral, estava muito castigada. O Mercado da Ribeira não tinha sido recuperado (...). Os edifícios à volta estavam muito decadentes e havia muito pouca gente naquela zona”, lembra o arquitecto.

 
 

Edifício da EDP © Foto Juan Rodriguez

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